A
LUZ DO VIVER
Conhecer
não significa necessariamente se envolver... Nosso dia a dia na Enfermagem
requer os cincos sentidos muito bem aguçados. Na chegada a ala de clínica
médica logo na entrada me depara com um mal cheiro bem característico de
infecção, a equipe apenas passa fazendo cara feia. O clima não tão amistoso,
mas o sol nasce todos os dias e que sou eu para continuar na escuridão. Dia seguinte
observo em um dos leitos das enfermarias a falta de uma pessoa a Senhora “I”
(por questões éticas não posso revelar o nome verdadeiro) e chegando ao posto
de enfermagem atrevo-me em inquirir na busca de uma resposta de transferência. No
entanto sou surpreendido com a notícia do falecimento às cinco horas da manha
daquela Senhora “I”...
O que
é a Vida? Apenas nascer, viver, chorar, sorrir, sofrer, triunfo e morrer?
Respostas que nunca iremos lograr satisfatoriamente então melhor não avultar o
assunto. Há dez dias mais ou menos conheci esta paciente em visita as
enfermarias juntamente com minha equipe e consegui observar a “Esperança” da
filha que sua genitora fosse sorteada com a recuperação total, apego ou ilusão?
Não cabe a minha pessoa furtar tal esperança. Perguntei se eles eram aqui de
Recife/PE, a filha da Senhora “I” disse que não, “somos de Arcoverde/PE”, (uma
homenagem ao Cardeal Arcoverde natural do município). Cidade encantadora com
grandes performances artistas e foi lá que passei um dos memoráveis São João
(festa junina) há tempos inesquecíveis. Surpresa que não parou por aí, ao ler o
prontuário notei que ainda só existia apenas o primeiro nome, sem sobrenome. Como
pode? Ninguém tem apenas o primeiro nome sem sobrenome? Querendo respostas
esperei por outra oportunidade junto à família para elucidar as ideias e foi o
que aconteceu. Questionamento de saúde
vai, questionamento de saúde vem aproveito e pergunto curioso como todo bom
escritor é o porquê da Senhora “I” não tivera no seu registro de nascimento o
sobrenome e a filha prontamente (como todo nordestino assim é) respondeu na
ponta de língua: “Meu avô o pai dela não quis registrar com sobrenome, apenas “I”...
Como pode uma pessoa de uma cidade tão maravilhosa como Arcoverde não ter um
sobrenome, vai mudar isso? A filha questionou: Como? Eu prontamente, Agora e
já... Ela irá se chamar “I” Arcoverde uma homenagem a sua cidade natal. Notei um
brilho especial na filha e assim saí feliz da visita sabendo que naquele
momento assim como faço com os minhas personagens na dramaturgia que tem nome e
sobrenome aquela senhora acamada convalescendo de uma enfermidade não partiria
desse mundo carnal sem sobrenome também, sorriso solto.
Infelizmente,
dias depois como falei acima ela veio a óbito deixando esse plano de provação e
expiação. Siga em paz minha irmã terrena que pouco conheci, mas tive uma estima
muito grande, porque a Luz do Viver é sempre a cada manhã em corações puros e
sinceros no âmago do Divino Pai Eterno.
Fernando
Matos
Poeta
e Enfermeiro Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/