O Olhar da Eternidade
Eu ainda
era um novo viajante na Saúde como Técnico em Enfermagem em um Grande Hospital
de Recife/PE, quando fui chamado certo dia por minha querida professora e
líder... “Preciso de você Fernando para tirar um plantão à noite, sei de sua
capacidade e confio nos seus serviços...” como dizer não diante desse pedido?
Liguei para casa avisei a família que iria ficar no hospital e assumir o
plantão noturno. O que me esperava? Como eu reagiria diante de uma dificuldade
na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)? A ansiedade mata um condenado antes
mesmo de sua execução.
Chegou
à noite e como já estava no plantão diurno só fez seguir o caminho da longa
noite escura. Dizem que os invejosos não precisam esconder-se para mostrar e
destilar seu veneno... Isso é uma grande verdade. Organizamo-nos no serviço,
dividimos os pacientes e o horário de descanso e eu notava um olhar estranho em
minha direção e se fosse para ceifar-me com certeza já estaria no mundo
espiritual há muito tempo. O que é importante e sempre teve como minha meta foi
Servir com atenção e carinho o meu semelhante. Quando se aproximou a hora do
descanso fiquei na vigília com a outra técnica de enfermagem e foi aí que tudo
aconteceu. A colega que ficou comigo chegou enfática e disse-me: “Não toque nos
meus pacientes, cuide apenas dos seus estamos entendido?” eu ri e balancei a
cabeça afirmativamente. Ao passar da meia noite um dos monitores do paciente
que a colega cuidava começou a agir de forma estranha e eu do canto não saí
(agitado por dentro), ela foi mexeu para um lado e para o outro e nada. Continuo
a tentar reverter sozinha o quadro do paciente e nada... Então ouvi uma voz
(era a dela), “Fernando, por favor, você pode me ajudar?” Sem demora respondi:
Sim eu posso, com certeza. E resolvemos juntos, estabilizamos a condição
clinica do paciente (que alívio).
Tudo
tranquilo? Não, parece que nós da enfermagem de terapia intensiva ficamos
sensíveis aos sons dos monitores cardíacos e ouvi algo estranho e saí à procura
quando observei uma das pacientes que estava em estado muito crítico após uma
cirurgia abdominal e na região uma tela... Cheguei perto dela, olhei o monitor
e nada de errado nos parâmetros, mas uma coisa me chamou muito a atenção
naquele momento. O olhar daquela senhora estava querendo me dizer algo (ela não
verbalizava), fiquei alguns segundos encarando aquele olhar e consegui entender
e como deveria agir... Cheguei mais perto da paciente e falei: “Está tudo bem e
vai ficar melhor, siga sua Luz porque a Vida continua... Deus esteja sempre
contigo” e na manhã que demorou tanto a chegar essa paciente veio a falecer com
um semblante tranquilo, sem dor... O apego é uma das piores formas de tortura, desapegar-se
é estar sempre no caminho escolhido pelo Grande Arquiteto do Universo.
Fernando
Matos
Poeta
Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/