sexta-feira, 19 de maio de 2017

O Olhar da Eternidade

O Olhar da Eternidade


Eu ainda era um novo viajante na Saúde como Técnico em Enfermagem em um Grande Hospital de Recife/PE, quando fui chamado certo dia por minha querida professora e líder... “Preciso de você Fernando para tirar um plantão à noite, sei de sua capacidade e confio nos seus serviços...” como dizer não diante desse pedido? Liguei para casa avisei a família que iria ficar no hospital e assumir o plantão noturno. O que me esperava? Como eu reagiria diante de uma dificuldade na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)? A ansiedade mata um condenado antes mesmo de sua execução.


Chegou à noite e como já estava no plantão diurno só fez seguir o caminho da longa noite escura. Dizem que os invejosos não precisam esconder-se para mostrar e destilar seu veneno... Isso é uma grande verdade. Organizamo-nos no serviço, dividimos os pacientes e o horário de descanso e eu notava um olhar estranho em minha direção e se fosse para ceifar-me com certeza já estaria no mundo espiritual há muito tempo. O que é importante e sempre teve como minha meta foi Servir com atenção e carinho o meu semelhante. Quando se aproximou a hora do descanso fiquei na vigília com a outra técnica de enfermagem e foi aí que tudo aconteceu. A colega que ficou comigo chegou enfática e disse-me: “Não toque nos meus pacientes, cuide apenas dos seus estamos entendido?” eu ri e balancei a cabeça afirmativamente. Ao passar da meia noite um dos monitores do paciente que a colega cuidava começou a agir de forma estranha e eu do canto não saí (agitado por dentro), ela foi mexeu para um lado e para o outro e nada. Continuo a tentar reverter sozinha o quadro do paciente e nada... Então ouvi uma voz (era a dela), “Fernando, por favor, você pode me ajudar?” Sem demora respondi: Sim eu posso, com certeza. E resolvemos juntos, estabilizamos a condição clinica do paciente (que alívio).


Tudo tranquilo? Não, parece que nós da enfermagem de terapia intensiva ficamos sensíveis aos sons dos monitores cardíacos e ouvi algo estranho e saí à procura quando observei uma das pacientes que estava em estado muito crítico após uma cirurgia abdominal e na região uma tela... Cheguei perto dela, olhei o monitor e nada de errado nos parâmetros, mas uma coisa me chamou muito a atenção naquele momento. O olhar daquela senhora estava querendo me dizer algo (ela não verbalizava), fiquei alguns segundos encarando aquele olhar e consegui entender e como deveria agir... Cheguei mais perto da paciente e falei: “Está tudo bem e vai ficar melhor, siga sua Luz porque a Vida continua... Deus esteja sempre contigo” e na manhã que demorou tanto a chegar essa paciente veio a falecer com um semblante tranquilo, sem dor... O apego é uma das piores formas de tortura, desapegar-se é estar sempre no caminho escolhido pelo Grande Arquiteto do Universo.


Fernando Matos
Poeta Pernambucano

http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/


segunda-feira, 8 de maio de 2017

Sem Contra Indicação

Sem Contra Indicação



Quando o mar está agitado, é hora de buscar o equilíbrio das velas. (Fernando Matos). Quem trabalha na Enfermagem sabe que a tensão, a preocupação, o estresse é constante e nos momentos de risos fáceis parece que a Bênção Divina desceu sobre o plantão como o balsamo da Paz... Quando isso acontece nos enchemos de muita alegria “Sem Moderação”.


Aconteceu em um dos estágios que atuei como preceptor de urgência e emergência. Era dia de muita chuva é como se fala nos encontros poéticos: “Chovia a Cântaros” e os alunos muito preocupados com suas roupas brancas, querendo continuar impecáveis na apresentação pessoal. Para mim nada disso tem muito valor o importante é trazer na alma a coragem, determinação e vontade enorme de “Cuidar” do seu semelhante. Manhã transcorria com tranquilidade e muita atenção... Isso eu dou valor, o cuidado no cuidar. A hora que todos gostam: O Almoço... Uma mistura na fisionomia de alegria e muita fome (risos), saímos em buscar de colocar nosso organismo saciado, todavia tudo era longe e sem opção... Então na hora que a fome aperta até farinha nordestina é bem-vinda. Chegamos ao supermercado mais próximo e nos deparamos com uma fila enorme e isso para quem está com fome é um martírio. Se esperar é o jeito por que fazer cara feia? Sorria que a dor alivia e depois de muito tempo naquela longa e dolorosa fila finalmente sentamos e nos saciamos com um enorme baguete e refrigerante. Sorrimos e no mesmo instante outra preocupação, a volta ao trabalho... Era longe, “pior é na guerra” já diz o ditado. No caminho ao trabalho para o segundo turno notei uma fita amarela amarrada ao sapato de um aluno, se fosse uma letra musical tudo bem, mas fiquei intrigado e perguntei: Que danado é isso? O mesmo prontamente respondeu: “A Sola do sapato se foi...” “A desgraça de um é a alegria de outros”. Todos riram e ficou uma pergunta no ar: Ele vai deixar mesmo a fita amarela amarrada no sapato dele? (risos). Tem-se uma coisa que apreendi na vida é que: “Se está ruim, pior também pode ficar”, o aluno ao chegar ao posto de emergência prontamente socorreu seu sapato enrolando com um pedaço de esparadrapo. Pronto o ápice do absurdo da comédia humana estava dando seu melhor desfecho para aquele dia de muita chuva e mais um dia de trabalho na Enfermagem bem executado.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/