Humanização
Participar
da Enfermagem Brasileira é uma das grandes alegrias que logramos no percurso de
toda nossa carreira profissional. Estávamos fechando mais um ciclo de estágio
dos acadêmicos de uma grande Faculdade aqui de Recife/PE e o meu desejo era
fecharmos com um aprendizado para marcar toda a nossa vida. Quem lê assim e
sabe que estávamos no setor de emergência vai pensar e com razão que o nosso
desejo era o sucesso em uma reanimação de PCR (Parada Cardiorrespiratória)...
Engano total.
Chegamos
ao sábado para um plantão de 12 horas, equipes a postos para o que der e
vier... Medicação completa, enfim tudo certo como manda o figurino a não ser um
mau cheiro terrível de matéria orgânica podre que encheu todo o ambiente da
emergência. Tal odor terrível não deixava ninguém transitar pelo setor com tranqüilidade
e fomos à procura de acabar com a tal podridão. Para o nosso espanto na
“Observação Masculina” encontrava-se um senhor humilde, cambaleante e de voz
arrastada. A nossa surpresa para o péssimo aroma vinha dessa pessoa... O que
fazer? Quem é esse cidadão? Tem acompanhante? Qual a patologia que o levou a
ficar internado na observação da emergência? Tantas perguntas e uma Enfermeira
de Primeira Classe que vamos chamar a mesma aqui pelo nome fictício de Senhora
Flora. A minha parte era orientar os estagiários no setor e alcançou algo mais distante,
observar a atitude de nossa Enfermeira Flora e assim fizemos... Enquanto eu e
minha equipe atendíamos outras pessoas na sala de medicação a Senhora Flora
partiu para providenciar material de higiene pessoal e indumentária limpas para
o cidadão vestir, pois tudo indicava que o mesmo passaria o fim de semana no
hospital e assim foi. Não agüentamos de tamanha curiosidade para saber mais
sobre o cidadão e fomos perguntar a Enfermeira Flora algo mais... Ela nos
respondeu que o senhor que se encontrava na observação masculina era um morador
de rua e etilista, estava debilitado, desidratado, desnutrido e sem ninguém na
vida. O silêncio tomou conta de meu espírito e da minha equipe também e a
partir dessa informação engajamos na grande missão em ajudar de alguma forma o
irmão desprovido de recurso. Após um bom banho, roupas limpas o cheiro
desagradável foi embora, aquele homem dormiu tranqüilo todo o sábado. Domingo
chegou e veio à curiosidade em visitar a observação masculina... Lá estava o
senhor do destino, agora com um aspecto mais tranqüilo, alimentado e
higienizado. Ficamos a pensar até onde vai a Força da Nossa Enfermagem no
Cuidar? Impossível mensurar tamanha dedicação de um Ser em prol de outro Ser...
É hora de falar um até breve, quem sabe um dia eu volte e que valeu todo o
aprendizado de convivência e sabedoria da experiência de vida de todos, sejam
técnicos em enfermagem, enfermeiros, enfermeiras o que logramos foi à passagem
de uma grande lição que irá perpetuar com a Fragrância da Humanização da
Enfermagem.
O
Cuidar não é competência apenas do Sistema de Saúde... É uma responsabilidade
alçada à Vida Individual e Coletiva.
Fernando
Matos
Enfermeiro
e Poeta Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/