segunda-feira, 19 de junho de 2017

Humanização

Humanização


Participar da Enfermagem Brasileira é uma das grandes alegrias que logramos no percurso de toda nossa carreira profissional. Estávamos fechando mais um ciclo de estágio dos acadêmicos de uma grande Faculdade aqui de Recife/PE e o meu desejo era fecharmos com um aprendizado para marcar toda a nossa vida. Quem lê assim e sabe que estávamos no setor de emergência vai pensar e com razão que o nosso desejo era o sucesso em uma reanimação de PCR (Parada Cardiorrespiratória)... Engano total.


Chegamos ao sábado para um plantão de 12 horas, equipes a postos para o que der e vier... Medicação completa, enfim tudo certo como manda o figurino a não ser um mau cheiro terrível de matéria orgânica podre que encheu todo o ambiente da emergência. Tal odor terrível não deixava ninguém transitar pelo setor com tranqüilidade e fomos à procura de acabar com a tal podridão. Para o nosso espanto na “Observação Masculina” encontrava-se um senhor humilde, cambaleante e de voz arrastada. A nossa surpresa para o péssimo aroma vinha dessa pessoa... O que fazer? Quem é esse cidadão? Tem acompanhante? Qual a patologia que o levou a ficar internado na observação da emergência? Tantas perguntas e uma Enfermeira de Primeira Classe que vamos chamar a mesma aqui pelo nome fictício de Senhora Flora. A minha parte era orientar os estagiários no setor e alcançou algo mais distante, observar a atitude de nossa Enfermeira Flora e assim fizemos... Enquanto eu e minha equipe atendíamos outras pessoas na sala de medicação a Senhora Flora partiu para providenciar material de higiene pessoal e indumentária limpas para o cidadão vestir, pois tudo indicava que o mesmo passaria o fim de semana no hospital e assim foi. Não agüentamos de tamanha curiosidade para saber mais sobre o cidadão e fomos perguntar a Enfermeira Flora algo mais... Ela nos respondeu que o senhor que se encontrava na observação masculina era um morador de rua e etilista, estava debilitado, desidratado, desnutrido e sem ninguém na vida. O silêncio tomou conta de meu espírito e da minha equipe também e a partir dessa informação engajamos na grande missão em ajudar de alguma forma o irmão desprovido de recurso. Após um bom banho, roupas limpas o cheiro desagradável foi embora, aquele homem dormiu tranqüilo todo o sábado. Domingo chegou e veio à curiosidade em visitar a observação masculina... Lá estava o senhor do destino, agora com um aspecto mais tranqüilo, alimentado e higienizado. Ficamos a pensar até onde vai a Força da Nossa Enfermagem no Cuidar? Impossível mensurar tamanha dedicação de um Ser em prol de outro Ser... É hora de falar um até breve, quem sabe um dia eu volte e que valeu todo o aprendizado de convivência e sabedoria da experiência de vida de todos, sejam técnicos em enfermagem, enfermeiros, enfermeiras o que logramos foi à passagem de uma grande lição que irá perpetuar com a Fragrância da Humanização da Enfermagem.


O Cuidar não é competência apenas do Sistema de Saúde... É uma responsabilidade alçada à Vida Individual e Coletiva.



Fernando Matos
Enfermeiro e Poeta Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/   



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