terça-feira, 7 de novembro de 2017

Ainda Não é a Hora

Ainda Não é a Hora



Devemos ter cuidado como utilizamos o pincel da vida... Um pequeno detalhe poderá alterar a imagem por toda a eternidade. Novos alunos com novas expectativas e desafios, sim até porque noventa por cento deles já estão na área de saúde há muito tempo. O setor de emergência é sempre uma caixa de grandes surpresas e durante um plantão qualquer acontecimento poderá se transformar em um grande ensinamento.


Chegou a nossas mãos um paciente que havia tentado suicídio e nesse momento começamos correr contra o tempo para reverter o quadro crítico. A minha equipe de alunos havia pessoas que já trabalhavam como técnicos em enfermagem nas áreas de trauma e resgate, estando naquele momento participando do estágio de graduação para galgar mais um grande degrau na carreira profissional. Posicionamos-nos cada um no seu lugar de atuação, alguns tentando acesso venoso periférico, outros realizando aspiração de secreções uma vez que a vítima havia ingerido algum tipo de veneno ainda não identificado. Para isso outro aluno foi em busca dessa informação para podermos agir conforme o protocolo... Entretanto a equipe médica parecia não haver passado por esse evento ainda e buscava informações médicas em aplicativos na rede de computadores... Tudo bem cada um na sua área e a nossa de Enfermagem estava agindo corretamente apenas aguardando as médicas para a realização da EOT (Entubação Endotraqueal). A primeira tentativa não houve êxito e na agitação que é peculiar da emergência a médica fez outra EOT sem tirar a anterior o que causou espanto em toda a equipe de enfermagem. Os olhares falavam muito, “dizer ou não dizer” que algo estava errado, optamos por dizer em prol do paciente. Foi feito a correção e a EOT funcionando perfeitamente. Agora a passagem de SNG aberta para retirada de fluidos e certos tipos de procedimentos não adianta ficar tenso ou com pressa de resolvê-lo... A colega Enfermeira do plantão de tão nervosa não obteve bom resultado, então me ofereci para passar tendo êxito apenas com a ajuda dos meus alunos de graduação. Depois de todo o procedimento feito nos reunimos e conversamos sobre o ocorrido, fazendo um estudo de caso ali ao vivo e na hora o que nos foi uma experiência inenarrável. Durante o restante do nosso plantão na emergência o paciente manteve-se em estado instável e aguardando vaga em alguma de UTI do Serviço Público.


Quando todos estavam distantes a conversar sobre o assunto, cheguei mais próximo daquele cidadão que tentara contra sua própria vida e disse-lhe baixinho: Ainda não é à hora e acredite você se livrou de um enorme pesadelo espiritual. Que os Anjos de Luz te guiem e te oriente. Não vai ser nada fácil, contudo poderia ser muito mais difícil... Fica com Deus.  

Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

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domingo, 17 de setembro de 2017

O Impossível a se Fazer Possível

O Impossível a se Fazer Possível



Não repare a distância a percorrer, dê um passo com segurança de cada vez. O mundo está passando por uma transformação que aos olhos negros poderá parecer apenas mais um dia simples, à visão vinda do Superior uma Nova Era com grandes superações. Não terei a certeza talvez se todos os alunos que agora passaram por mim puderam ter a sensibilidade de observar a energia que somos e por ela estamos sendo utilizados, mas sigo em frente confiante que a semente do cuidar foi plantada.

Em mais um dia de serviço tanto a fazer e pouco tempo para solucionar as dores e incertezas dos pacientes. Um cidadão com SVD fazendo irrigação contínua fica com a sonda obstruída, apresentando piúria tenta-se a desobstrução e nada, volta ao médico e esse tem o êxito. Não importa os comentários, mas o sorriso de satisfação do paciente no seu caso por hora resolvido. Outro paciente na maca retrátil que não funciona mais e se torna rasteira dificultando qualquer tipo de procedimento... Todavia para os determinados isso não é determinante e sete pessoas unem-se para dar um banho de conforto ao irmão necessitado, faz-se curativo na UPP (Úlcera Por Pressão) e na lesão severa localizada no testículo. Olhares de dúvidas, sentimento de força e união, um paciencioso na luta por sua recuperação. Fato que levou a todos a sonhar e manter oração constante em prol de sua melhora... Agora uma paciente com dores fortes no joelho sem ainda um diagnostico fechado, olhar de súplica e sou surpreendido por sua voz espiritual clamando socorro. Pego o prontuário pergunto o nível de dor, faço a primeira intervenção que é ouvir e dar uma voz de conforto, contudo nada disso ainda é o alívio suficiente para tanta algia. Ao longe outro paciente parece pior e chamam-me para intervir e o equilíbrio nessas horas é fornecido por esferas superiores. Dou solução ao caso iminente, dirijo-me a sala de preparo das medicações e sem demora manipulo com cuidado a medicação daquela paciente com dor insuportável. Volto a sua maca, agora trazendo a solução que ela tanto almejava e a encontro tremendo de tanta dor, olhos cheios de lágrimas... Sem demora instalo a medicação e peço para que observe a melhora ou piora e chame-me se preciso. Vou à procura dos meus alunos e eu encontro eles com olhar compenetrados ajudando o seu próximo, por dentro de mim cai uma lágrima de alegria acreditando que estou repassando as orientações correta. Depois de algumas horas a mais de serviço em meio a um mar de macas, passo novamente pela jovem que antes era só dor, agora já um sorriso que superou aquele momento álgico a mesma pega em minha mão e diz: Muito Obrigado. Peguei o prontuário daquela jovem mulher e em busca de tentar entender porque sua família estava tão apreensiva... A suspeita era de Leucemia, os resultados dos exames já mostravam isso bastando apenas o médico dizer a verdade à família. Deus por nós que recorremos a vós...

Assim mais duas turmas de estagiários findam seu período e seguem para novos encontros com outros preceptores e o meu desejo é que a Luz do Divino Amor esteja com cada um deles capacitando-os no Eterno Cuidar ao semelhante.

Plantamos sementes de alegria entre espinhos, na esperança que lindas flores de louvor possam glorificar o Grande Construtor do Universo.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A Educação que Vem dos Chinelos

A Educação que Vem dos Chinelos



Momento de descontração na Enfermagem é sempre bem vindo e faz bem a saúde de quem está sempre disposto a cuidar do seu semelhante. Eu sempre soube que a boa educação vem de berço, um ditado tão antigo e pouco aplicado no nosso dia a dia não é verdade? Mentira, eu conheço uma pessoa que vai além dessas expectativas de boa educação.

Estávamos iniciando mais um plantão com seus diversos problemas a serem resolvidos e minha equipe sempre muito bem atenta e é assim que gosto, pois dá certa leveza ao trabalho ao contrário que muita gente pensa que o estresse é o motivador do profissional. Estar em QAP (Atenção) para o que acontece ao seu redor no trabalho de Enfermagem evita desgastes emocionais desnecessários. Se começamos um plantão em ordem é nosso dever devolver em ordem para haver uma ótima continuidade do serviço. Pois bem, assim nos comportamos e na hora sagrada do almoço e parece que tudo acontece nessa hora (risos) ao final de uma boa alimentação para o segundo turno de atividades na saúde em prol do nosso semelhante ouvi umas gargalhadas e curioso perguntei... Ficaram meio envergonhadas com a pergunta, mas depois jogou no ar a gafe do mês das flores. A colega JMM ao ir ao sanitário de longe observou o que poderia ser dois pés e com muita educação pediu licença para adentrar no banheiro. Foi quando a mesma se deu conta que tinha usado da sua boa educação para um par de chinelos... Riso solto fez nosso dia mais feliz naquele momento. Voltamos mais iluminados para terminar com alegria mais um plantão.

Não importa o modo da felicidade, a graça está na alegria de quem a vive.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano
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domingo, 3 de setembro de 2017

Benevolência Universal

Benevolência Universal



Todos os caminhos percorridos nas encruzilhadas da Vida só uma seta que nos mostra o caminho para retornar... Quando comecei a minha jornada na saúde e tinha como propósito ajudar o meu semelhante nada é igual que a sensação de estar de volta ao Hospital Otávio de Freitas, minha casa onde tudo começou. Atualmente atuando como preceptor de estágio, repassando tudo que apreendi nesses longos quem sabe pequenos anos. A troca que existência humana cobra sem parcelas.


Mais uma turma de novas estagiárias dando continuidade na sua formação como técnica em enfermagem e uma emoção sacudiu meu espírito viajante quando observei em cada novo olhar daquelas jovens o desejo ardente em ajudar, conhecer mais e cuidar de seus semelhantes... Eu estava de volta. Chegamos ao setor e nos encontramos com alguns entraves, nada mais que querendo provar nossa vontade de estar ali presentes como instrumento da Luz Divina. Na saúde não existe isso de ficar “sem fazer nada”, sempre terá alguém para ajudar e foi desse jeito que encontramos o senhor J. N. vamos assim chamá-lo por questões éticas. Um paciente com seus 68 anos de idade, recém operado pela Urologia e com um agravante... Sem acompanhante. Chegamos perto e seu estado não era dos melhores, necessitava de uma atenção especial: Ainda todo sujo de sangue, numa maca, dieta zero, tinha apresentado êmese logo cedo SIC (segundo informações colhidas), enfim precisava de nós. Chamei pelo olhar algumas alunas e logo fui atendido levando aquele cidadão para sala de procedimentos onde iniciamos o processo de um banho. Notei também que ele estava com obstrução na SVA e apresentava algia ao toque na região da bexiga, providenciei imediatamente material para desobstrução, pois ninguém merece estar sozinho em um hospital público e com dor. Foi um trabalho iluminado e purificador porque o Sr. J. N. saiu daquela sala, asseado, sem dor e com instruções de uma dieta liberada, pronto o caminho totalmente seguro e calmo. Não, passamos todo o plantão em QAP Total (atenção) porque estava prescrito para ele, Irrigação Contínua e o receio da sonda obstruir novamente o que aconteceram algumas outras vezes e fora feito a devida desobstrução e alívio da dor. As alunas entenderam o recado e ficaram comigo sempre no bom atendimento a outros pacientes sem esquecer-se do Sr. J. N. e no final do nosso “Plantão” de conhecimentos e procedimentos lá estava novamente o paciente com os lençóis ensangüentado... Reunimos forças e realizamos todo o processo inicial do dia e faríamos isso sempre que necessário.


Quando entregamos nossas vidas às bênçãos do Grande Arquiteto do Universo um Grande Campo Energético nos oferta a Benevolência Universal da Vida.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

O Necrotério

O Necrotério



A de se espantar alguém que tenha o fascínio de estar em um recinto mórbido. Mais uma dessas curiosidades que a vida nos apronta e não sei se admiro ou fico assustado com tal comportamento. Aliais a palavra comportamento vem do conjunto de ações de um indivíduo observáveis objetivamente.


Era mais um início de estágio para uma nova turma de alunas de “Técnicas em Enfermagem” onde ninguém conhece ninguém, nem a si mesma... Apresentamo-nos ao setor de estágio e logo começamos a trabalhar, até porque o Setor de Urgência e Emergência ninguém fica parado. Atendimento vem e atendimento vai até que uma das alunas me chamou ao canto e com um brilho todo especial nos olhos de desejo ardente me interpelou: - Professor, onde fica o necrotério? Para meu espanto respondi: Meu Deus alguém do seu conhecimento morreu? Ela riu e respondeu: - Não, eu é que sou fascinada por estar e ficar dentro de um necrotério... Aquilo me deixou pasmado até porque é o único lugar que um ou um (a) aluno (a) quer conhecer ou até mesmo ficar. Disse-lhe que não sabia e desconversei o assunto até para que o foco do aprendizado fosse e continuasse sendo o paciente “Vivo”. Chegou a hora do almoço e no momento de relaxamento (raro na enfermagem) perguntei a pretensiosa aluna: Por que você tem esse desejo ou encantamento por necrotério? Ela com um sorriso de dia das bruxas respondeu: - Professor não sei dizer, talvez seja porque uma pessoa muito querida minha morreu no dia do meu aniversário. Explicação talvez óbvia demais para que trabalhe na psicologia, mas para mim que além de enfermeiro – poeta – espiritualista na me convenceu e o debate aconteceu... Chegamos a uma medicação na conversa até porque devemos respeitar a opinião e desejos alheios (Livre Arbítrio) voltamos para a segunda parte do estágio e quando dei por mim não conseguia visualizar a aluna entre os pacientes (Vivos) no corredor da emergência. Logo depois enxerguei ao longe ela (a aluna) vindo em minha direção com um sorriso muito bonito e transbordando de felicidade, não tive mais dúvida ela fora visitar o necrotério... E então gostou? Ela responde: - Amei professor me senti realizada.


Se diante do espelho a mais complexa imagem do nosso reflexo não nos enxergamos por completo... Que podemos dizer do nosso companheiro de viajem terrena? 



Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano
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segunda-feira, 19 de junho de 2017

Humanização

Humanização


Participar da Enfermagem Brasileira é uma das grandes alegrias que logramos no percurso de toda nossa carreira profissional. Estávamos fechando mais um ciclo de estágio dos acadêmicos de uma grande Faculdade aqui de Recife/PE e o meu desejo era fecharmos com um aprendizado para marcar toda a nossa vida. Quem lê assim e sabe que estávamos no setor de emergência vai pensar e com razão que o nosso desejo era o sucesso em uma reanimação de PCR (Parada Cardiorrespiratória)... Engano total.


Chegamos ao sábado para um plantão de 12 horas, equipes a postos para o que der e vier... Medicação completa, enfim tudo certo como manda o figurino a não ser um mau cheiro terrível de matéria orgânica podre que encheu todo o ambiente da emergência. Tal odor terrível não deixava ninguém transitar pelo setor com tranqüilidade e fomos à procura de acabar com a tal podridão. Para o nosso espanto na “Observação Masculina” encontrava-se um senhor humilde, cambaleante e de voz arrastada. A nossa surpresa para o péssimo aroma vinha dessa pessoa... O que fazer? Quem é esse cidadão? Tem acompanhante? Qual a patologia que o levou a ficar internado na observação da emergência? Tantas perguntas e uma Enfermeira de Primeira Classe que vamos chamar a mesma aqui pelo nome fictício de Senhora Flora. A minha parte era orientar os estagiários no setor e alcançou algo mais distante, observar a atitude de nossa Enfermeira Flora e assim fizemos... Enquanto eu e minha equipe atendíamos outras pessoas na sala de medicação a Senhora Flora partiu para providenciar material de higiene pessoal e indumentária limpas para o cidadão vestir, pois tudo indicava que o mesmo passaria o fim de semana no hospital e assim foi. Não agüentamos de tamanha curiosidade para saber mais sobre o cidadão e fomos perguntar a Enfermeira Flora algo mais... Ela nos respondeu que o senhor que se encontrava na observação masculina era um morador de rua e etilista, estava debilitado, desidratado, desnutrido e sem ninguém na vida. O silêncio tomou conta de meu espírito e da minha equipe também e a partir dessa informação engajamos na grande missão em ajudar de alguma forma o irmão desprovido de recurso. Após um bom banho, roupas limpas o cheiro desagradável foi embora, aquele homem dormiu tranqüilo todo o sábado. Domingo chegou e veio à curiosidade em visitar a observação masculina... Lá estava o senhor do destino, agora com um aspecto mais tranqüilo, alimentado e higienizado. Ficamos a pensar até onde vai a Força da Nossa Enfermagem no Cuidar? Impossível mensurar tamanha dedicação de um Ser em prol de outro Ser... É hora de falar um até breve, quem sabe um dia eu volte e que valeu todo o aprendizado de convivência e sabedoria da experiência de vida de todos, sejam técnicos em enfermagem, enfermeiros, enfermeiras o que logramos foi à passagem de uma grande lição que irá perpetuar com a Fragrância da Humanização da Enfermagem.


O Cuidar não é competência apenas do Sistema de Saúde... É uma responsabilidade alçada à Vida Individual e Coletiva.



Fernando Matos
Enfermeiro e Poeta Pernambucano
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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Paciente X

Paciente “X”


Vivemos com tanta pressão que às vezes é preciso um momento de descontração para saber que a nossa existência não é apenas de preocupação e dor.


Em nosso encontro de trabalho na emergência aconteceu um fato que se fosse para ser uma pegadinha não teria sido tão hilário. Quando estou com alguma equipe de enfermagem tento transmitir a união e responsabilidade acima de qualquer interesse pessoal levando a quem estiver a pensar que o importante é a Vida do nosso semelhante. Assim se faz Graças a Deus e todo o serviço torna-se mais leve porque muitas mãos trabalham em um objetivo realizando com êxito e glória sua missão. Foi uma manhã turbulenta, vários pacientes a medicar e a atenção estava à flor da pele e mesmo assim tomávamos conta um do outro. Quando já estava chegando perto das 12 horas e a linha de partida para o almoço mostrava-se tão perto fui controlando a ansiedade de todos mesmo sabendo que é importante repor as energias para uma boa continuidade do serviço. Eu, da minha parte estava com uma vontade enorme de aliviar-me e o corre-corre do serviço não teria dado oportunidade para tal feito. Então, ao comunicar à minha equipe a boa hora do almoço soltei uma mensagem: “Antes vou ali ver um paciente que está com água no joelho e precisa urgentemente fazer a retirada desse líquido” e assim fui... Ao retornar para o grupo vários sorrisos largo, e confuso perguntei: - O que houve? Uma pessoa da equipe respondeu ainda rindo muito. - “Professor (como sou carinhosamente chamado) “eles” estavam preocupados com o paciente que o senhor foi ver (mais risos) e eu falei que o senhor teria ido ao toalete eliminar diurese. Aliviados de todas as formas (risos) fomos nos reabastecer para o segundo turno de uma emergência cheia de surpresas (mais risos).


“O bom líder caminha atrás de seus seguidores...”


Fernando Matos
Enfermeiro e Poeta Pernambucano

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sexta-feira, 19 de maio de 2017

O Olhar da Eternidade

O Olhar da Eternidade


Eu ainda era um novo viajante na Saúde como Técnico em Enfermagem em um Grande Hospital de Recife/PE, quando fui chamado certo dia por minha querida professora e líder... “Preciso de você Fernando para tirar um plantão à noite, sei de sua capacidade e confio nos seus serviços...” como dizer não diante desse pedido? Liguei para casa avisei a família que iria ficar no hospital e assumir o plantão noturno. O que me esperava? Como eu reagiria diante de uma dificuldade na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)? A ansiedade mata um condenado antes mesmo de sua execução.


Chegou à noite e como já estava no plantão diurno só fez seguir o caminho da longa noite escura. Dizem que os invejosos não precisam esconder-se para mostrar e destilar seu veneno... Isso é uma grande verdade. Organizamo-nos no serviço, dividimos os pacientes e o horário de descanso e eu notava um olhar estranho em minha direção e se fosse para ceifar-me com certeza já estaria no mundo espiritual há muito tempo. O que é importante e sempre teve como minha meta foi Servir com atenção e carinho o meu semelhante. Quando se aproximou a hora do descanso fiquei na vigília com a outra técnica de enfermagem e foi aí que tudo aconteceu. A colega que ficou comigo chegou enfática e disse-me: “Não toque nos meus pacientes, cuide apenas dos seus estamos entendido?” eu ri e balancei a cabeça afirmativamente. Ao passar da meia noite um dos monitores do paciente que a colega cuidava começou a agir de forma estranha e eu do canto não saí (agitado por dentro), ela foi mexeu para um lado e para o outro e nada. Continuo a tentar reverter sozinha o quadro do paciente e nada... Então ouvi uma voz (era a dela), “Fernando, por favor, você pode me ajudar?” Sem demora respondi: Sim eu posso, com certeza. E resolvemos juntos, estabilizamos a condição clinica do paciente (que alívio).


Tudo tranquilo? Não, parece que nós da enfermagem de terapia intensiva ficamos sensíveis aos sons dos monitores cardíacos e ouvi algo estranho e saí à procura quando observei uma das pacientes que estava em estado muito crítico após uma cirurgia abdominal e na região uma tela... Cheguei perto dela, olhei o monitor e nada de errado nos parâmetros, mas uma coisa me chamou muito a atenção naquele momento. O olhar daquela senhora estava querendo me dizer algo (ela não verbalizava), fiquei alguns segundos encarando aquele olhar e consegui entender e como deveria agir... Cheguei mais perto da paciente e falei: “Está tudo bem e vai ficar melhor, siga sua Luz porque a Vida continua... Deus esteja sempre contigo” e na manhã que demorou tanto a chegar essa paciente veio a falecer com um semblante tranquilo, sem dor... O apego é uma das piores formas de tortura, desapegar-se é estar sempre no caminho escolhido pelo Grande Arquiteto do Universo.


Fernando Matos
Poeta Pernambucano

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segunda-feira, 8 de maio de 2017

Sem Contra Indicação

Sem Contra Indicação



Quando o mar está agitado, é hora de buscar o equilíbrio das velas. (Fernando Matos). Quem trabalha na Enfermagem sabe que a tensão, a preocupação, o estresse é constante e nos momentos de risos fáceis parece que a Bênção Divina desceu sobre o plantão como o balsamo da Paz... Quando isso acontece nos enchemos de muita alegria “Sem Moderação”.


Aconteceu em um dos estágios que atuei como preceptor de urgência e emergência. Era dia de muita chuva é como se fala nos encontros poéticos: “Chovia a Cântaros” e os alunos muito preocupados com suas roupas brancas, querendo continuar impecáveis na apresentação pessoal. Para mim nada disso tem muito valor o importante é trazer na alma a coragem, determinação e vontade enorme de “Cuidar” do seu semelhante. Manhã transcorria com tranquilidade e muita atenção... Isso eu dou valor, o cuidado no cuidar. A hora que todos gostam: O Almoço... Uma mistura na fisionomia de alegria e muita fome (risos), saímos em buscar de colocar nosso organismo saciado, todavia tudo era longe e sem opção... Então na hora que a fome aperta até farinha nordestina é bem-vinda. Chegamos ao supermercado mais próximo e nos deparamos com uma fila enorme e isso para quem está com fome é um martírio. Se esperar é o jeito por que fazer cara feia? Sorria que a dor alivia e depois de muito tempo naquela longa e dolorosa fila finalmente sentamos e nos saciamos com um enorme baguete e refrigerante. Sorrimos e no mesmo instante outra preocupação, a volta ao trabalho... Era longe, “pior é na guerra” já diz o ditado. No caminho ao trabalho para o segundo turno notei uma fita amarela amarrada ao sapato de um aluno, se fosse uma letra musical tudo bem, mas fiquei intrigado e perguntei: Que danado é isso? O mesmo prontamente respondeu: “A Sola do sapato se foi...” “A desgraça de um é a alegria de outros”. Todos riram e ficou uma pergunta no ar: Ele vai deixar mesmo a fita amarela amarrada no sapato dele? (risos). Tem-se uma coisa que apreendi na vida é que: “Se está ruim, pior também pode ficar”, o aluno ao chegar ao posto de emergência prontamente socorreu seu sapato enrolando com um pedaço de esparadrapo. Pronto o ápice do absurdo da comédia humana estava dando seu melhor desfecho para aquele dia de muita chuva e mais um dia de trabalho na Enfermagem bem executado.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

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quinta-feira, 27 de abril de 2017

Bendita Liberdade

Bendita Liberdade



Os Caminhos da Enfermagem são longos e cheios de surpresas. Estava eu acompanhando alunos no campo de estágio de Saúde Coletiva na sala de vacinação quando adentra ao recinto uma jovem grávida e de aspecto tranquila e angelical. Triste é humanidade que só enxerga o cristal por fora.

Acolhemos a gestante e solicitamos seu cartão de vacinação. Era um dia de trabalho muito tranquilo com oportunidade de uma boa conversa, assim se fez... Carinhosamente chamaremos essa gestante de “Mãe”: - Mãe que barriga bonita está fazendo o pré-natal direitinho? Ela responde: Sim, tudo direitinho. Equipe: - Já sabe o sexo da criança? Mãe: - São dois meninos.

Foi uma alegria muito grande de todos. A curiosidade para saber os nomes foi instantânea: Mãe – Um se chamará Bento (Bendito) e o outro Francisco (Livre). Uma colega exclamou: São nomes fortes e a Mãe concluiu: - Um deles apresenta anencefalia... Ficamos estarrecidos, o silêncio tomou por um segundo o vácuo da sala de vacinação. A gestante confirmou a todos que faria a doação de órgãos quando chegasse a hora. A Mulher já vem ao mundo com alma materna, que sentimento iluminado, que coragem, só Deus para confortar aquele coração de Mãe. Somos ínfimos diante de nossos problemas e essa Gestante tão cheia de Luz para nos ensinar a viver. Só a carne aprimora o Espírito Humano e nos encaminha à Bendita Liberdade.

Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano



segunda-feira, 20 de março de 2017

Pedras que Brilham

Pedras que Brilham



Todo dia é um novo caminho a seguir... Estradas e ruas com suas esquinas e surpresas em cada novo destino. Assim é nossa Enfermagem tão preciosa e cheia de encantos e contos. Minha jornada como preceptor de estágio há de contar histórias interessantes e que emociona. Assim foi o encontro de duas pedras que brilham, porque somos todos reflexos da Luz Divina.


Eram jovens estudantes, iniciantes e aventureiros na nova jornada do cuidar. Eu, um simples mensageiro do Divino Pai Eterno há repassar o pouco que sei aqueles jovens ávidos da enfermagem. Certo dia chegando ao local de trabalho reúno a equipe para mais um momento de aprendizado mútuo, cumprimento com um bom dia toda a equipe técnica do setor de clínica médica e sem demora vou com os alunos desenvolver a evolução diária dos pacientes. De longe dá para se ouvir uma voz queixosa, um tom de mágoa misturado à revolta. Todos falam e eu só escuto porque ouvir é mais sábio que falar e após as evoluções e apresentações dos pacientes a enfermeira de plantão diurno me chama para que junto com a minha equipe de alunos/acadêmicos realizássemos um procedimento de passagem de Sonda Vesical de Demora e paciente indicada seria a L.S. (por questões éticas não podemos revelar seu nome), filha de Dona Marlene A. Sales. A vida ensinou-me a nunca negar desafios e lá fomos nós, novamente conversar e convencer a L.S. a permitir tal procedimento, a negativa foi em alto e bom som... Não. Permaneci sereno e a convidei para conversar sobre o assunto e após muito diálogo ela (L.S.) aceitou que eu, apenas eu e duas alunas fizesse a passagem da sonda. Esse foi o início de uma nova amizade que perdura até os dias de hoje tudo porque houve confiança, respeito de ambas as partes para um resultado satisfatório. Todos os dias eu fazia minhas evoluções de enfermagem juntamente com os alunos e buscava ajudar aquela jovem de Luz a entender sua jornada e graças a Deus ela alcançou a cura desejada, não foi fácil... Mas a caminhada é longa e precisa ser perseverante. Há pouco tempo ela sofreu um acidente e lá estávamos juntos novamente, após a L.S. ser atendida levei-a para sua residência e foi mais um desses encontros felizes que a vida nos proporcionou.



A minha felicidade é ver essa Mensageira de Luz Feliz, Sorridente e confiante porque ela é uma Pedra que Brilha e feliz sigo meu caminho na enfermagem do cuidar, onde todos os dias é sempre um recomeço.



Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

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terça-feira, 7 de março de 2017

Amor Incondicional

Amor Incondicional


Morte, a grande passagem para um mundo desconhecido por nossas mentes e morada eterna do nosso espírito. Sem querer entrar no mérito religioso de cada pessoa que aqui lê esses contos, mas a Enfermagem é a quem mais perto fica nesse momento de transição levando conforto para quem fica na longa jornada. Um dia fui chamado para tirar plantões “Home Care” em uma residência no bairro dos Aflitos – Recife/PE e lá conheci ainda em vida um cidadão chamado A.M. (assim o chamarei aqui) um grande empresário que foi acometido de uma patologia comum nos dias atuais, câncer de pulmão...


Reconhecer o terreno não é apenas tarefa dos grandes soldados em batalha, deveria ser uma ordem para todos nós e em qualquer momento de nossas vidas. Cidadão culto, honrado e simples posso aqui o descrever dessa maneira e ele por sua vez muito observador notou que eu gostava de leitura, pois quando não havia procedimento há ser feito eu estava a ler... Gostou tanto de ver essa qualidade em mim que todos os meus plantões eu era ofertado com diversos jornais, para manter-me atualizado. Sua condição de saúde não era das melhores, vivia sempre em O2 contínuo e em seu quarto cinco cilindros de oxigênio que eram trocados duas ou mais vezes por dia dependendo da necessidade. A família muito educada e atenciosa... A ficha caiu, eu estava cuidando de um paciente terminal. Tranquilidade, harmonia, respeito ao Ser Humano passou a ser prioridade máxima em cada plantão. Certa noite notei que a saturação do paciente caía muito e com o fluxômetro no máximo, realizei nebulização (NBZ) conforme prescrição médica e nenhuma melhora na saturação que chegou a 40%... Liguei para a base conforme protocolo e descrevi para o médico de plantão todos os procedimentos realizados no paciente ele ouviu com atenção e respondeu: Fernando nada mais pode ser feito. Então reúna a família e comunique o fato e vamos aguardar... Aquilo foi um choque muito grande para mim, pois acreditamos que sempre, sempre poderemos fazer mais e muito mais para salvar a vida do nosso semelhante. No entanto ordem dada é ordem executada, chamei primeiramente o filho e esse foi ao apartamento vizinho onde morava sua irmã e a chamou também. Expliquei todo o ocorrido e ela com semblante que nunca vou esquecer, foi até o leito do pai nada falou e deitou ao lado dele o abraçando com muito carinho e amor... Para minha surpresa e dos filhos ali presente esse gesto de afeto fez com que a saturação do Sr. A.M. voltasse a subir de uma maneira surpreendente... O que falar? Nada. O que Apreender? Tudo. Terminei meu plantão noturno com a certeza de que o Amor Incondicional é o melhor medicamento para os males da alma. Dois plantões depois recebo o telefonema do meu colega de trabalho informando o falecimento daquele Cidadão ilustre.


A Vida é feita de Sentimentos aprimorando o nosso Amor Incondicional...


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

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sexta-feira, 3 de março de 2017

Superação

Superação


Todos os dias somos movidos a ultrapassar situações desagradáveis e perigosas e em muitos casos depois de uma doença um exercício diário rumo a Vitória. Os plantões de enfermagem e suas incríveis histórias tão reais que merecem destaque na vida de todos. Saímos para trabalhar, fazemos nossas orações, nos despedimos da família com brevidade, entregamos nosso destino nas mãos do Divino Pai Eterno. Isso todos os dias, mas a infelicidade também pode nos surpreender e foi assim para um dos clientes do hospital para o qual trabalhei.


Durante um assalto a Empresa esta pessoa levou um tiro que teve entrada, mas não saída e quem é da área de saúde sabe o quanto isso é perigoso e o cliente J.B. (vamos assim chamar) ficou muito preocupado porque suas pernas não estavam respondendo aos seus comandos, preocupante. Uma visita do médico neurocirurgião foi dito ao mesmo e eu estava presente nessa fatídica hora que o tiro que J.B. levou o projetil teria se alojado na coluna vertebral e ele não mais poderia deambular, foi uma notícia pior que o tiro que ele levou. Ouvimos tudo que o médico tinha a dizer e após a sua saída o J.B. caiu em prantos sentindo sua vida cair em desgraça. Eu e minhas intuições pedi licença ao paciente, peguei uma caneta e realizei o Teste de Babinski que é um reflexo descoberto por Joseph Babinski um neurologista francês de ascendência polonesa, que pode identificar doenças da medula espinhal e do cérebro... Esse teste teve reação positiva do paciente J.B. para meu espanto, pois o médico não havia realizado o referido teste... Uma esperança no ar. Novamente solicitei permissão ao Sr. J.B. para uma breve conversa e ele com seu pai ouviram de mim o seguinte: Quer voltar a andar? Claro que a resposta foi positiva, mas com sempre acompanhada da dúvida. Eu disse então: Vou lhe ajudar, mas preciso acima de tudo que o senhor também se ajude. Todos os meus plantões irei estar com o senhor e tentaremos fazer o senhor voltar a sentir os movimentos das pernas não será fácil, mas a Superação é mais sua do que minha e o meu desejo é ver o senhor sair do hospital após a alta, andando. Ele topou, no entanto não foi fácil como qualquer fato em nossas vidas e vi algumas vezes ele (o J.B.) querer desistir... Dias se passaram e consegui observar o pregresso o senhor J.B. já conseguia ficar com as pernas flexionadas no leito hospitalar. Das lágrimas ao sorriso doce e esperançoso de uma pessoa que foi diagnosticado com paralisia total dos membros inferiores (MMII) e eu apenas sendo um instrumento da Obra Divina na vida de meu semelhante.


Chegou o dia tão esperado pelo Sr. J.B. o médico assistente passou em seu quarto e lhe deu alta hospitalar e foi possível sentir uma forte energia de felicidade no ambiente. A família arrumou todos os pertences do paciente, ele mandou-me chamar e pediu o último favor, que o levasse em cadeira de rodas até a saída do hospital e prontamente atendi ao pedido. Ao chegar à saída ele disse: “trave a cadeira, por favor,”, se levantou me deu um forte abraço e completou “Estou saindo do hospital andando como você disse, muito obrigado...” Algum tempo depois o encontrei como chefe de segurança de outro grande hospital da Cidade do Recife/PE, a força da palavra criou forma com a força da nossa fé.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A Saúde da Amizade

A Saúde da Amizade


Dizem que a primeira vez deixa marcado para o resto da vida, eu acredito. Não importa o dia, mês e ano que aconteceu, mas como aconteceu. Era meu primeiro emprego ainda como Técnico em Enfermagem e no Hospital Ana Néri aqui nessa Cidade linda chamada Recife/PE. Como todo novato ficava desconfiado de tudo e com os braços invisíveis abertos pedindo ajuda e isso alguns só algumas pessoas dotadas de sensibilidade conseguem captar o pedido de socorro. Essa pessoa tem nome, Vanécia Nunes.


Foi ela que me deu apoio naquele momento decisivo da minha carreira na área de saúde. Essa mesma pessoa, ou melhor, a Grande Pessoa Vanécia Nunes fez com que aquela máxima “Trabalhar em Equipe” valesse a pena. Plantão após plantão uma afinidade iria crescendo e junto a isso a inveja daqueles que não sabem ser amigos, ou reconhecer amigos sendo só e somente só cumplices de uma caminhada. Fui me afeiçoando e acreditando cada vez mais no meu trabalho, até que veio às férias da amiga e o conto de fadas virou pesadelo. Aquelas pessoas que antes já nos olhavam por cima do ombro agora tinha um grande motivo para me destruir, todavia quem veio para uma Missão Divina não suja a alma de carvão. Os dias passaram e fui posto a diversas provações e se tem uma coisa que apreendi nessa vida foi matar essas pessoas sem estirpe com o silêncio. Sempre trabalhando com afinco e dedicação ao próximo foi levando meus plantões até um dia rever novamente vinda de suas merecidas férias minha amiga. Sem nada dizer ela percebeu algo de estranho no posto de enfermagem (visão de pessoas iluminadas) e me indagou sobre aquele clima de estranheza entre os profissionais, fui obrigado a relatar todo o ocorrido e ela me disse: “Tem problema não Fernando, vamos continuar fazendo o nosso certo...” e foi o que aconteceu. O trabalho era tão bom que nos ajudávamos mutuamente e ficava leve como pena de águia... Até um certo dia nos descuidamos nas orações e uma medicação errada foi colocada em um paciente sob meus cuidados e por pouco quase as coisas não complicavam de verdade. No final conseguimos reverter à situação, mas não a advertência da diretoria e da coordenação de enfermagem. Queria muito assumir toda a culpa, mas Vanécia pediu que ficasse quieto e ver no que poderia dar tudo aquilo... Nossa desconfiança era que as etiquetas dos medicamentos foram trocadas, mas nunca conseguimos provar tal fato apesar dos rostos culpados serem tão exposto feito manchete de jornal. A diretoria do hospital conhecendo nossa Ilibada Reputação no trabalho informou que foi um lamentável acontecimento, mas que deveria aplicar uma sanção para os dois envolvidos. Vanécia, minha amiga, foi suspensa dois plantões e eu levei uma chamada da coordenação. A inveja por alguns momentos teve sua pseudo alegria, pois aquilo só fez fortalecer a vigilância no trabalho e na nossa amizade e “Não existe amor maior do que este: de alguém dar a própria vida por causa dos seus amigos.” (João 15:13) foi o ensinamento maior que tivemos com todo aquele acontecimento.


Nossa Amizade? Continua forte até os dias de hoje, nossos caminhos foram separados, mas o coração de amigos permanece sempre unido. Porque não é fácil encontrar Verdadeiros Amigos na Saúde, mas ter uma Grande Amizade faz muito bem a nossa frágil saúde vital. Muito obrigado Vanécia Nunes pelos ensinamentos e bons momentos que tivemos em nosso glorioso labor e que as esquinas não fiquem longas para o nosso reencontro ser próximo.



Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/ 





sábado, 4 de fevereiro de 2017

A Fé que Nunca Falta.

A Fé que Nunca Falta.

Só se sente sozinho que não tem sensibilidade nos sentidos. Não faz muito tempo que eu trabalhava para uma Empresa de São Paulo/SP, e uma das minhas funções era realizar visitas a pacientes que fazia uso ou iria iniciar o uso de medicamentos imunobiológicos. Por ocasião a minha coordenadora ligou-me e avisou que eu teria uma visita a realizar em Jurupiranga/PB, prontamente organizei minhas coisas de enfermagem e o GPS (Global Positioning System, que em português significa “Sistema de Posicionamento Global”) e foi aí que começou toda a história.

Saindo da minha Cidade Recife/PE, programei o GPS para levar-me ao meu destino. Fiz minhas orações, pedi proteção ao Divino Pai Eterno e a Meishu Sama e fui... No caminho até Goiana/PE, tudo bem, mas depois que passei desta cidade o GPS reprogramou o destino, mas sempre “programado” para chegada em Jurupiranga/PB, fui curtindo a paisagem como sempre faço quando viajo a negócios e preocupado com a hora marcada com a cliente (pontualidade é minha meta também). Chegando à entrada de João Pessoa/PB, outra reprogramação e começo a ficar preocupado. Paro o carro verifico se o GPS está funcionando direito e sigo caminho com Fé em Deus, Meishu Sama e Santa Rita de Cássia. Coincidência ou não ao chegar ao município de Santa Rita/PB, o Sistema de Posicionamento Global pede que eu vire à esquerda e depois de 100 metros virar à direita, obedeço cegamente... Meu erro.

Ao chegar perto do que seria meu destino me deparo com um canavial imenso e estrada de barro, só estrada de barro. Quem tem o Sistema de Posicionamento Global sabe que ele pode nos levar a outro destino e por vezes muito perigoso e foi o que aconteceu. Perdido eu e meu GPS quase caí em um barranco, a sorte foi que dirijo com prudência e atenção e consegui evitar o pior. Vontade não faltou para jogar o maldito GPS nos quintos dos infernos, mas como saí de casa coberto de orações ao Divino Pai Eterno recorri. Parei o carro, olhei para o alto e falei: “Senhor Deus Pai Todo Poderoso envia-me uma pessoa nesse lugar deserto para guiar ao destino correto”, não demorou trinta segundos e apareceu a minha frente um cidadão, meu sorriso largo quase saiu do carro. Tomei informação e prontamente segui caminho, contudo quanto mais eu andava mais mato eu via e mais estrada de barro percorria. Recorri ao Pai Celestial, e novamente apareceu naquele lugar ermo outro cidadão (segunda vez), o homem me diz que estou no caminho certo e pede para que eu não me desvie da rota e quem sou eu para desobedecer a um enviado de Deus? Cantarolando continuei dirigindo e tenham certeza, cantar os males espanta mesmo e despois de vários quilômetros dirigidos encontrei uma encruzilhada, sim uma linda e perfeita encruzilhada do interior. Começo a rir e a pensar no atraso que estou para encontrar a paciente que naquele momento deveria estar impaciente. Celular? Não funcionava. Saio do carro me coloco em pé, olho ao redor da região e vejo uma casa simples e sem hesitar vou até a mesma. Desconfiado por adentrar no terreno alheio alteio a voz para que me ouçam e não venha a levar um tiro por invasão. Outro cidadão (terceiro) aparece na porta e digo o quanto estou preocupado e ele acalma-me dizendo que estou perto é só seguir em frente até encontrar a estrada asfaltada. Três vezes tá de bom tamanho, retorno ao carro já todo enlameado e vou ao destino.

Chego a tão esperada estrada asfaltada e ao meu lado acreditem se quiser uma capela dessas de estrada e no alto uma informação: “Capela dos Mortos”. Agradeço a Deus e também peço perdão por estar tão atrasado, melhor chegar logo para voltar à Cidade Natal. Recebido pela paciente repasso todas as informações pertinentes para uma boa auto aplicação do medicamento para Artrite Reumatoide e confesso-lhe o motivo do atraso. Ela me olha com espanto e fala: “Meu filho, você escapou da morte. Aquele lugar é de desova dos bandidos dessa região”, respondi àquela tão gentil senhora: - Quem anda com Deus nada teme. Ela orienta-me a voltar por Itambé/PB, e depois que chegar a Goiana/PE, seguir para Recife/PE. Eu não sei se eu ria da situação ou ficava com raiva de mim mesmo... Eu estava tão perto e fui confiar em um GPS maluco, mas a Fé que nunca falta livrou-me dos percalços da vida, fiz minha visita, voltei por onde a paciente orientou-me chegando em casa com segurança e abençoado pelo Divino Pai Eterno, Meishu Sama e Santa Rita de Cássia... Amém.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A LUZ DO VIVER

A LUZ DO VIVER


Conhecer não significa necessariamente se envolver... Nosso dia a dia na Enfermagem requer os cincos sentidos muito bem aguçados. Na chegada a ala de clínica médica logo na entrada me depara com um mal cheiro bem característico de infecção, a equipe apenas passa fazendo cara feia. O clima não tão amistoso, mas o sol nasce todos os dias e que sou eu para continuar na escuridão. Dia seguinte observo em um dos leitos das enfermarias a falta de uma pessoa a Senhora “I” (por questões éticas não posso revelar o nome verdadeiro) e chegando ao posto de enfermagem atrevo-me em inquirir na busca de uma resposta de transferência. No entanto sou surpreendido com a notícia do falecimento às cinco horas da manha daquela Senhora “I”...


O que é a Vida? Apenas nascer, viver, chorar, sorrir, sofrer, triunfo e morrer? Respostas que nunca iremos lograr satisfatoriamente então melhor não avultar o assunto. Há dez dias mais ou menos conheci esta paciente em visita as enfermarias juntamente com minha equipe e consegui observar a “Esperança” da filha que sua genitora fosse sorteada com a recuperação total, apego ou ilusão? Não cabe a minha pessoa furtar tal esperança. Perguntei se eles eram aqui de Recife/PE, a filha da Senhora “I” disse que não, “somos de Arcoverde/PE”, (uma homenagem ao Cardeal Arcoverde natural do município). Cidade encantadora com grandes performances artistas e foi lá que passei um dos memoráveis São João (festa junina) há tempos inesquecíveis. Surpresa que não parou por aí, ao ler o prontuário notei que ainda só existia apenas o primeiro nome, sem sobrenome. Como pode? Ninguém tem apenas o primeiro nome sem sobrenome? Querendo respostas esperei por outra oportunidade junto à família para elucidar as ideias e foi o que aconteceu.  Questionamento de saúde vai, questionamento de saúde vem aproveito e pergunto curioso como todo bom escritor é o porquê da Senhora “I” não tivera no seu registro de nascimento o sobrenome e a filha prontamente (como todo nordestino assim é) respondeu na ponta de língua: “Meu avô o pai dela não quis registrar com sobrenome, apenas “I”... Como pode uma pessoa de uma cidade tão maravilhosa como Arcoverde não ter um sobrenome, vai mudar isso? A filha questionou: Como? Eu prontamente, Agora e já... Ela irá se chamar “I” Arcoverde uma homenagem a sua cidade natal. Notei um brilho especial na filha e assim saí feliz da visita sabendo que naquele momento assim como faço com os minhas personagens na dramaturgia que tem nome e sobrenome aquela senhora acamada convalescendo de uma enfermidade não partiria desse mundo carnal sem sobrenome também, sorriso solto.


Infelizmente, dias depois como falei acima ela veio a óbito deixando esse plano de provação e expiação. Siga em paz minha irmã terrena que pouco conheci, mas tive uma estima muito grande, porque a Luz do Viver é sempre a cada manhã em corações puros e sinceros no âmago do Divino Pai Eterno.

Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/