segunda-feira, 20 de março de 2017

Pedras que Brilham

Pedras que Brilham



Todo dia é um novo caminho a seguir... Estradas e ruas com suas esquinas e surpresas em cada novo destino. Assim é nossa Enfermagem tão preciosa e cheia de encantos e contos. Minha jornada como preceptor de estágio há de contar histórias interessantes e que emociona. Assim foi o encontro de duas pedras que brilham, porque somos todos reflexos da Luz Divina.


Eram jovens estudantes, iniciantes e aventureiros na nova jornada do cuidar. Eu, um simples mensageiro do Divino Pai Eterno há repassar o pouco que sei aqueles jovens ávidos da enfermagem. Certo dia chegando ao local de trabalho reúno a equipe para mais um momento de aprendizado mútuo, cumprimento com um bom dia toda a equipe técnica do setor de clínica médica e sem demora vou com os alunos desenvolver a evolução diária dos pacientes. De longe dá para se ouvir uma voz queixosa, um tom de mágoa misturado à revolta. Todos falam e eu só escuto porque ouvir é mais sábio que falar e após as evoluções e apresentações dos pacientes a enfermeira de plantão diurno me chama para que junto com a minha equipe de alunos/acadêmicos realizássemos um procedimento de passagem de Sonda Vesical de Demora e paciente indicada seria a L.S. (por questões éticas não podemos revelar seu nome), filha de Dona Marlene A. Sales. A vida ensinou-me a nunca negar desafios e lá fomos nós, novamente conversar e convencer a L.S. a permitir tal procedimento, a negativa foi em alto e bom som... Não. Permaneci sereno e a convidei para conversar sobre o assunto e após muito diálogo ela (L.S.) aceitou que eu, apenas eu e duas alunas fizesse a passagem da sonda. Esse foi o início de uma nova amizade que perdura até os dias de hoje tudo porque houve confiança, respeito de ambas as partes para um resultado satisfatório. Todos os dias eu fazia minhas evoluções de enfermagem juntamente com os alunos e buscava ajudar aquela jovem de Luz a entender sua jornada e graças a Deus ela alcançou a cura desejada, não foi fácil... Mas a caminhada é longa e precisa ser perseverante. Há pouco tempo ela sofreu um acidente e lá estávamos juntos novamente, após a L.S. ser atendida levei-a para sua residência e foi mais um desses encontros felizes que a vida nos proporcionou.



A minha felicidade é ver essa Mensageira de Luz Feliz, Sorridente e confiante porque ela é uma Pedra que Brilha e feliz sigo meu caminho na enfermagem do cuidar, onde todos os dias é sempre um recomeço.



Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/


terça-feira, 7 de março de 2017

Amor Incondicional

Amor Incondicional


Morte, a grande passagem para um mundo desconhecido por nossas mentes e morada eterna do nosso espírito. Sem querer entrar no mérito religioso de cada pessoa que aqui lê esses contos, mas a Enfermagem é a quem mais perto fica nesse momento de transição levando conforto para quem fica na longa jornada. Um dia fui chamado para tirar plantões “Home Care” em uma residência no bairro dos Aflitos – Recife/PE e lá conheci ainda em vida um cidadão chamado A.M. (assim o chamarei aqui) um grande empresário que foi acometido de uma patologia comum nos dias atuais, câncer de pulmão...


Reconhecer o terreno não é apenas tarefa dos grandes soldados em batalha, deveria ser uma ordem para todos nós e em qualquer momento de nossas vidas. Cidadão culto, honrado e simples posso aqui o descrever dessa maneira e ele por sua vez muito observador notou que eu gostava de leitura, pois quando não havia procedimento há ser feito eu estava a ler... Gostou tanto de ver essa qualidade em mim que todos os meus plantões eu era ofertado com diversos jornais, para manter-me atualizado. Sua condição de saúde não era das melhores, vivia sempre em O2 contínuo e em seu quarto cinco cilindros de oxigênio que eram trocados duas ou mais vezes por dia dependendo da necessidade. A família muito educada e atenciosa... A ficha caiu, eu estava cuidando de um paciente terminal. Tranquilidade, harmonia, respeito ao Ser Humano passou a ser prioridade máxima em cada plantão. Certa noite notei que a saturação do paciente caía muito e com o fluxômetro no máximo, realizei nebulização (NBZ) conforme prescrição médica e nenhuma melhora na saturação que chegou a 40%... Liguei para a base conforme protocolo e descrevi para o médico de plantão todos os procedimentos realizados no paciente ele ouviu com atenção e respondeu: Fernando nada mais pode ser feito. Então reúna a família e comunique o fato e vamos aguardar... Aquilo foi um choque muito grande para mim, pois acreditamos que sempre, sempre poderemos fazer mais e muito mais para salvar a vida do nosso semelhante. No entanto ordem dada é ordem executada, chamei primeiramente o filho e esse foi ao apartamento vizinho onde morava sua irmã e a chamou também. Expliquei todo o ocorrido e ela com semblante que nunca vou esquecer, foi até o leito do pai nada falou e deitou ao lado dele o abraçando com muito carinho e amor... Para minha surpresa e dos filhos ali presente esse gesto de afeto fez com que a saturação do Sr. A.M. voltasse a subir de uma maneira surpreendente... O que falar? Nada. O que Apreender? Tudo. Terminei meu plantão noturno com a certeza de que o Amor Incondicional é o melhor medicamento para os males da alma. Dois plantões depois recebo o telefonema do meu colega de trabalho informando o falecimento daquele Cidadão ilustre.


A Vida é feita de Sentimentos aprimorando o nosso Amor Incondicional...


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano

http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/

sexta-feira, 3 de março de 2017

Superação

Superação


Todos os dias somos movidos a ultrapassar situações desagradáveis e perigosas e em muitos casos depois de uma doença um exercício diário rumo a Vitória. Os plantões de enfermagem e suas incríveis histórias tão reais que merecem destaque na vida de todos. Saímos para trabalhar, fazemos nossas orações, nos despedimos da família com brevidade, entregamos nosso destino nas mãos do Divino Pai Eterno. Isso todos os dias, mas a infelicidade também pode nos surpreender e foi assim para um dos clientes do hospital para o qual trabalhei.


Durante um assalto a Empresa esta pessoa levou um tiro que teve entrada, mas não saída e quem é da área de saúde sabe o quanto isso é perigoso e o cliente J.B. (vamos assim chamar) ficou muito preocupado porque suas pernas não estavam respondendo aos seus comandos, preocupante. Uma visita do médico neurocirurgião foi dito ao mesmo e eu estava presente nessa fatídica hora que o tiro que J.B. levou o projetil teria se alojado na coluna vertebral e ele não mais poderia deambular, foi uma notícia pior que o tiro que ele levou. Ouvimos tudo que o médico tinha a dizer e após a sua saída o J.B. caiu em prantos sentindo sua vida cair em desgraça. Eu e minhas intuições pedi licença ao paciente, peguei uma caneta e realizei o Teste de Babinski que é um reflexo descoberto por Joseph Babinski um neurologista francês de ascendência polonesa, que pode identificar doenças da medula espinhal e do cérebro... Esse teste teve reação positiva do paciente J.B. para meu espanto, pois o médico não havia realizado o referido teste... Uma esperança no ar. Novamente solicitei permissão ao Sr. J.B. para uma breve conversa e ele com seu pai ouviram de mim o seguinte: Quer voltar a andar? Claro que a resposta foi positiva, mas com sempre acompanhada da dúvida. Eu disse então: Vou lhe ajudar, mas preciso acima de tudo que o senhor também se ajude. Todos os meus plantões irei estar com o senhor e tentaremos fazer o senhor voltar a sentir os movimentos das pernas não será fácil, mas a Superação é mais sua do que minha e o meu desejo é ver o senhor sair do hospital após a alta, andando. Ele topou, no entanto não foi fácil como qualquer fato em nossas vidas e vi algumas vezes ele (o J.B.) querer desistir... Dias se passaram e consegui observar o pregresso o senhor J.B. já conseguia ficar com as pernas flexionadas no leito hospitalar. Das lágrimas ao sorriso doce e esperançoso de uma pessoa que foi diagnosticado com paralisia total dos membros inferiores (MMII) e eu apenas sendo um instrumento da Obra Divina na vida de meu semelhante.


Chegou o dia tão esperado pelo Sr. J.B. o médico assistente passou em seu quarto e lhe deu alta hospitalar e foi possível sentir uma forte energia de felicidade no ambiente. A família arrumou todos os pertences do paciente, ele mandou-me chamar e pediu o último favor, que o levasse em cadeira de rodas até a saída do hospital e prontamente atendi ao pedido. Ao chegar à saída ele disse: “trave a cadeira, por favor,”, se levantou me deu um forte abraço e completou “Estou saindo do hospital andando como você disse, muito obrigado...” Algum tempo depois o encontrei como chefe de segurança de outro grande hospital da Cidade do Recife/PE, a força da palavra criou forma com a força da nossa fé.


Fernando Matos
Poeta e Enfermeiro Pernambucano
http://contosdaenfermagem.blogspot.com.br/